Resumo
Introdução: A estenose esofágica pós-cáustica (EEPC) é uma forma benigna que resulta da ingestão de substâncias químicas corrosivas, como ácidos ou bases fortes, levando à necrose, inflamação e fibrose da mucosa esofágica. O tratamento depende da gravidade e pode incluir dilatações endoscópicas, próteses ou cirurgia, sendo fundamental o manejo multiprofissional desses pacientes.
Objetivo: Relatar um caso de EEPC atendido em nosso Serviço.
Metodologia: Trata-se do caso de um paciente atendido no Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus (HUSF), localizado na cidade de Bragança Paulista – SP.
Relato do Caso: Paciente de 53 anos, natural de Atibaia-SP, com histórico de ingestão de soda cáustica na infância, múltiplas dilatações esofágicas até os 17 anos e tabagismo (40 maços/ano), apresentou disfagia progressiva e impactação alimentar. Endoscopia digestiva alta evidenciou estenose esofágica a 25 cm da arcada dentária superior, impossibilitando a passagem de sonda nasoenteral. A tomografia mostrou espessamento circunferencial do esôfago médio/distal e broncoscopia revelou abaulamento do brônquio esquerdo por compressão extrínseca. Foi submetida a gastrostomia com biópsia, cujo resultado mostrou esofagite crônica inespecífica, sem excluir malignidade. Considerando os fatores de risco e o desejo de retomar alimentação oral, realizou-se esofagectomia trans-hiatal pela técnica de McKeown. O procedimento ocorreu sem intercorrências técnicas, com boa perfusão do tubo gástrico e estabilidade hemodinâmica. No pós-operatório, apresentou complicações respiratórias manejadas clinicamente, permanecendo internada por 17 dias. Recebeu alta com dieta pastosa via sonda nasoenteral e boa evolução clínica. O exame anatomopatológico revelou esofagite crônica ativa com fibrose extensa e gastrite crônica antral, sem displasia ou malignidade.
Conclusão: Trata-se de um caso de estenose esofágica tardia secundária a lesão cáustica, em paciente com alto risco para transformação maligna devido à inflamação crônica e ao tabagismo. A indicação de esofagectomia trans-hiatal pela técnica de McKeown teve como objetivos restabelecer a via alimentar oral e remover um segmento esofágico de risco oncológico. O desfecho foi favorável, sem evidência de neoplasia no exame anatomopatológico, ressaltando a importância do acompanhamento prolongado e da intervenção cirúrgica precoce em casos semelhantes.
Referências
CHEN, Yu-Jhou et al. Evaluation of a Diagnostic and Management Algorithm for Adult Caustic Ingestion: New Concept of Severity Stratification and Patient Categorization. Journal of Personalized Medicine, v. 12, n. 6, p. 989, jun. 2022.
DEBOURDEAU, Antoine et al. Assessment of long-term results of repeated dilations and impact of a scheduled program of dilations for refractory esophageal strictures: a retrospective case-control study. Surgical Endoscopy, v. 36, n. 2, p. 1098–1105, fev. 2022.
GODFREY, CHAN Chi Fung. Complications of Common Paediatric and Child Health Problems. HK J Paediatr (new series), v. 29, p. 210–211, 2024.
RAVICH, William J. Endoscopic Management of Benign Esophageal Strictures. Current Gastroenterology Reports, v. 19, n. 10, p. 50, 24 ago. 2017.
RISWANTO, Arival Yanuar et al. Esophageal stricture due to corrosive substance ingested and delayed management: A case report. Trauma Case Reports, v. 57, p. 101171, 14 abr. 2025.
SĂFTOIU, Adrian. Pocket Guide to Advanced Endoscopy in Gastroenterology. Springer Nature, 2023.
VALENCIA, Carla et al. Esophagogastric Complications After Caustic Ingestion: A Case Report. Cureus, v. 14, n. 7, p. e26762, 2022.
WU, Rui et al. Benign esophageal stricture model construction and mechanism exploration. Scientific Reports, v. 13, n. 1, p. 11769, 20 jul. 2023.
YANG, Fang et al. The occurrence and development mechanisms of esophageal stricture: state of the art review. Journal of Translational Medicine, v. 22, n. 1, p. 123, 31 jan. 2024.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.